segunda-feira, 16 de abril de 2012

Refúgio

Já disse o mestre filósofo:
-“só sei que nada sei”,
E eu, por minha vez, o que posso dizer-te que sei?

Este tal espírito prático
Que tanto assombrou Cecília*,
Que tanto faz as coisas parecerem difíceis,
Inviáveis e impossíveis
Espero que não me persiga,
Espero que ele não consiga
Fechar os meus olhos de vez.

Os sons que por vezes me irritam
Habitam os mesmos lugares que amei.
Lugares por onde passei,
Onde o meu sorriso deixei.
Será que devo fechar-me?
Ou esperar que minha sutileza seja notada?
Sutileza presente nos atos,
Não precisamente em palavras.

Nas palavras encontro a intensidade desejada,
Encontro delicadeza precisa
Escrita num emaranhado de páginas.
Palavras que borram com a água salgada
Nascida nos meus olhos e que embaça minha visão.
Lágrimas,
Despertadas com as palavras
Lidas até então.


Ilka Souza
*Referência ao Espírito prático presente na crônica Imagem, de Cecília Meireles.