Sentiu um gélido sopro na espinha. Se espalhando
por entre as vértebras. Alcançando os pulmões. Com temperatura glacial, a textura
de metal percorria suas veias, invadindo cada centímetro do seu corpo,
rapidamente. A escassa energia foi multiplicada em intensidade extrema. Havia
agilidade nas mãos. Nos dedos. Na mente. Qualquer margem dada a distrações fora
excluída. Substituída. Seu sorriso, que expressava o misto de surpresa,
alegria, excitação, tomou ar feroz. Não havia implicações subjetivas.
Havia disposição. Ela não cessava. Logo, o gelado metal, outrora embutido,
tomava espaço em sua pele. Substituía os pelos arrepiados pelo súbito frio
potente. Articulava corpo e mente ao tempo e suas engrenagens. Nada mais
pararia aquilo que era (finalmente) máquina.
Ilka Souza