quarta-feira, 7 de junho de 2017

A máquina

Sentiu um gélido sopro na espinha. Se espalhando por entre as vértebras. Alcançando os pulmões. Com temperatura glacial, a textura de metal percorria suas veias, invadindo cada centímetro do seu corpo, rapidamente. A escassa energia foi multiplicada em intensidade extrema. Havia agilidade nas mãos. Nos dedos. Na mente. Qualquer margem dada a distrações fora excluída. Substituída. Seu sorriso, que expressava o misto de surpresa, alegria, excitação, tomou ar feroz. Não havia implicações subjetivas. Havia disposição. Ela não cessava. Logo, o gelado metal, outrora embutido, tomava espaço em sua pele. Substituía os pelos arrepiados pelo súbito frio potente. Articulava corpo e mente ao tempo e suas engrenagens. Nada mais pararia aquilo que era (finalmente) máquina.


Ilka Souza

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